O artigo “Peri-intubation adverse events and clinical outcomes in emergency department patients: the BARCO study”, publicado na revista Critical Care em 2025, é um estudo de coorte prospectivo conduzido em 18 departamentos de emergência no Brasil entre março de 2022 e abril de 2024.
Abaixo está uma análise resumida do estudo:
Objetivo
O estudo teve como objetivo identificar a prevalência, os fatores de risco e o impacto de eventos adversos peri-intubação em pacientes submetidos a intubação traqueal de emergência, além de avaliar a associação desses eventos com a mortalidade em 28 dias.
Métodos
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População: Incluiu adultos (≥ 18 anos) submetidos a intubação de emergência em departamentos de emergência, excluindo intubações eletivas ou realizadas por parada cardíaca.
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Definição de eventos adversos: Eventos adversos peri-intubação foram definidos como hipoxemia grave, instabilidade hemodinâmica nova ou parada cardíaca ocorridas dentro de 30 minutos após o início da intubação.
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Desfecho primário: Mortalidade em 28 dias.
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Análise: Regressão logística multivariável foi usada para avaliar a associação entre eventos adversos e mortalidade, controlando variáveis confundidoras.
Resultados Principais
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Incidência de eventos adversos: Aproximadamente 1 em cada 3 pacientes apresentou eventos adversos peri-intubação, destacando-se:
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Hipoxemia grave.
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Instabilidade hemodinâmica.
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Parada cardíaca (menos frequente).
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Fatores de risco:
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Intubação por instabilidade hemodinâmica foi associada a maior risco de eventos adversos.
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Ambientes com recursos limitados (como em países de renda média) apresentaram maior incidência de complicações.
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Mortalidade: Eventos adversos peri-intubação foram associados a maior mortalidade em 28 dias, com odds ratio significativo após ajuste para fatores confundidores.
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Sucesso na primeira tentativa: A primeira tentativa bem-sucedida de intubação foi associada a menor incidência de eventos adversos, reforçando a importância da técnica e preparo adequados.
Implicações Clínicas
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Preparação hemodinâmica: A otimização da condição hemodinâmica antes da intubação é crucial para reduzir eventos adversos, especialmente em pacientes com choque ou hipoxemia prévia.
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Uso de checklists: A implementação de checklists e protocolos padronizados pode melhorar a segurança do procedimento.
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Treinamento: A ênfase no sucesso da primeira tentativa, com uso de dispositivos como videolaringoscópios, pode minimizar complicações.
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Atenção a contextos de recursos limitados: O estudo destaca a necessidade de intervenções específicas em países de renda média, onde a incidência de eventos adversos é elevada.
Limitações
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Natureza observacional: Não permite inferir causalidade direta.
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Variabilidade de práticas: Diferenças nos protocolos e recursos entre os centros podem influenciar os resultados.
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Dados não públicos: Dados individuais não estão disponíveis para análises secundárias, limitando a reprodutibilidade.
Conclusão
O estudo BARCO reforça que eventos adversos peri-intubação são frequentes em departamentos de emergência, especialmente em contextos de recursos limitados, e estão associados a maior mortalidade. Estratégias como otimização hemodinâmica pré-intubação, uso de checklists e foco no sucesso da primeira tentativa são essenciais para melhorar os desfechos. O estudo sublinha a necessidade de intervenções direcionadas para mitigar esses riscos, particularmente em países de renda média.
Referência: Maia, I. W. A., et al. Peri-intubation adverse events and clinical outcomes in emergency department patients: the BARCO study. Critical Care, 2025; 29:155.