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Escalas que auxiliam o Diagnóstico de Acidente Vascular Cerebral

O Diagnóstico do Acidente Vascular Cerebral na unidade de Emergência (Escalas).

A abordagem ao paciente com suspeita de Acidente Vascular Cerebral (AVC) em um cenário de emergência ou pré-hospitalar exige o uso de ferramentas diagnósticas rápidas e eficazes. Diversas escalas são utilizadas para diagnosticar e classificar o AVC, cada uma com seu propósito específico, ajudando a identificar rapidamente os sintomas, avaliar a gravidade e determinar o tratamento adequado.

  1. Escala Cincinnati Prehospital Stroke Scale (CPSS)

A CPSS é uma das mais utilizadas em ambientes pré-hospitalares devido à sua simplicidade e eficácia. Ela avalia três pontos principais:

– Face (Face): Pede-se ao paciente para sorrir ou mostrar os dentes. Observa-se a simetria.

  – Normal: Ambos os lados do rosto se movem igualmente.

  – Anormal: Um lado do rosto não se move tão bem quanto o outro (assimetria facial).

– Braços (Arms): Pede-se ao paciente para levantar ambos os braços com os olhos fechados por 10 segundos.

  – Normal: Ambos os braços se movem igualmente ou ambos não se movem.

  – Anormal: Um braço não se move ou cai em relação ao outro.

– Fala (Speech): Pede-se ao paciente para repetir uma frase simples, como “O céu está azul em Cincinnati”.

  – Normal: Paciente pode repetir a frase corretamente.

  – Anormal: Paciente tem dificuldades em falar a frase corretamente (palavras erradas, arrastadas ou inexistentes).

Cada anormalidade detectada recebe 1 ponto, totalizando uma pontuação de 0 a 3. Uma pontuação de 1 ou mais sugere uma alta suspeita de AVC.

  1. Los Angeles Prehospital Stroke Screen (LAPSS)

A LAPSS é um pouco mais detalhada que a CPSS e requer uma pequena história médica, além do exame físico:

– Idade: Paciente tem mais de 45 anos?

– História prévia de convulsões/epilepsia: Paciente tem uma história de convulsões?

– Início dos sintomas: Os sintomas começaram dentro das últimas 24 horas?

– Nível de açúcar no sangue: Glicemia capilar entre 60 e 400 mg/dL.

– Déficit neurológico óbvio: Fraqueza unilateral no braço, assimetria facial ou preensão palmar assimétrica.

Se todas as respostas são “sim” e não há outro diagnóstico mais provável, o paciente é considerado provável para AVC.

  1. National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS)

A NIHSS é uma ferramenta mais abrangente e é frequentemente utilizada na unidade de emergência para avaliar a gravidade do AVC. Tem 11 itens avaliados, cada um pontuado de 0 (normal) a um valor máximo dependendo do item. Pontuações se somam para um total de 0 a 42:

  1. Nível de Consciência
  2. Orientação (Questões gerais)
  3. Comandos (Abrir e fechar olhos, apertar mãos)
  4. Movimento dos Globos Oculares
  5. Campos Visuais
  6. Paralisia Facial
  7. Motricidade dos Braços (Esquerdo e Direito)
  8. Motricidade das Pernas (Esquerda e Direita)
  9. Ataxia de Membros
  10. Sensibilidade
  11. Linguagem (Nomear itens, descrever imagem, leitura)
  12. Disartria
  13. Extinção e Inatenção

Pontuação geralmente interpretada:

– 0: Sem AVC

– 1-4: AVC menor

– 5-15: AVC moderado

– 16-20: AVC moderado a grave

– 21-42: AVC grave

  1. Rapid Arterial Occlusion Evaluation (RACE)

É uma escala mais recente desenvolvida para a rápida avaliação pré-hospitalar de grandes oclusões arteriais, comuns em AVCs graves.

– Facial Paresia (0-2 pontos)

– Força do Braço (0-2 pontos)

– Força da Perna (0-2 pontos)

– Desvio do Olhar/Gaze Preferencial (0-1 ponto)

– Afasia (Comando não entendido) e Agnosia (Reconhecimento de deficiência) (0-2 pontos)

Pontuação máxima: 11. Escore ≥ 5 implica alta suspeita de uma grande oclusão arterial (LVO).

  1. Escala de Glasgow (GCS)

Apesar de não ser específica para AVC, a GCS é frequentemente utilizada para avaliar o nível de consciência de pacientes com qualquer tipo de lesão neurológica. Composta por:

– Abertura Ocular (1-4)

– Resposta Verbal (1-5)

– Resposta Motora (1-6)

– Simatória : 3 a 15.

Pupilas: pupilas isofotoreagentes e siméticas: 0

Pupilas com anisocorias: – 1 ponto

Pupilas sem resposta (mióticas ou midriáticas): – 2

Pontuando as pupilas o resultado do Glasgow: 1 a 15.

  1. Face Arm Speech Test (FAST)

O Face Arm Speech Test (FAST) é uma ferramenta de triagem simples e eficaz, amplamente utilizada para identificar os sinais precoces de um acidente vascular cerebral (AVC) e para conscientizar sobre a urgência de obter atendimento médico imediato. O teste é baseado em três critérios principais, que ajudam a detectar as alterações físicas e de fala associadas a um AVC. Vamos explorar cada um dos componentes do FAST em detalhes:

  1. Face (Rosto):

   – O que verificar: Peça à pessoa que sorria ou mostre os dentes.

   – O que observar: Verifique se um dos lados do rosto está caído ou dormente. Um sinal de alerta é uma assimetria quando a pessoa tenta sorrir, com um lado da boca não se movendo tanto quanto o outro.

  1. Arm (Braço):

   – O que verificar: Peça à pessoa que levante ambos os braços.

   – O que observar: Veja se um dos braços desce involuntariamente ou é consideravelmente mais fraco do que o outro. Incapacidade de levantar um braço de maneira uniforme ou dificuldade em mantê-lo levantado indica um problema potencial.

  1. Speech (Fala):

   – O que verificar: Peça à pessoa que repita uma frase simples, como “O tempo está ensolarado hoje”.

   – O que observar: Escute se há alterações na fala, como arrastar as palavras, dificuldade para falar claramente ou incapacidade de repetir a frase corretamente.

  1. Time (Tempo):

   – Ação necessária: Se a pessoa apresentar qualquer um destes sinais, é crucial agir rapidamente.

   – O que fazer: Ligue imediatamente para os serviços de emergência médica, pois o tempo é um fator crítico no tratamento do AVC. Quanto mais rápido a pessoa receber atendimento, maior a chance de minimizar danos cerebrais e outras complicações.

Importância do FAST:

O FAST é uma ferramenta educativa importante porque permite que leigos reconheçam rapidamente os sinais de um AVC. Agir imediatamente é vital, já que o tratamento imediato pode melhorar significativamente os resultados para o paciente. Por exemplo, a administração de medicamentos como o ativador de plasminogênio tecidual (tPA) em um curto período após o início dos sintomas pode dissolver os coágulos de sangue e restaurar o fluxo sanguíneo para o cérebro.

Limitações do FAST:

Embora o FAST seja uma ferramenta útil para identificar sinais comuns de AVC, ele não detecta todos os derrames, especialmente aqueles que afetam outras áreas do cérebro que não influenciam o rosto, os braços ou a fala. Portanto, qualquer sintoma neurológico novo e súbito deve ser avaliado por profissionais de saúde.

O uso do FAST ajuda a salvar vidas e reduzir o impacto a longo prazo de um AVC, tornando-o uma ferramenta crucial para leigos e para aqueles que trabalham em cuidados de saúde.

Referências:

  1. Saver, J. L., Saver, J. L., Fonarow, G. C., Smith, E. E., Reeves, M. J., Grau-Sepulveda, M. V., … & Schwamm, L. H. (2013). Time to treatment with intravenous tissue plasminogen activator and outcome from acute ischemic stroke. Jama, 309(23), 2480-2488.
  2. Powers, W. J., Derdeyn, C. P., Biller, J., Coffey, C. S., Hoh, B. L., Jauch, E. C., … & Yonas, H. (2015). 2015 American Heart Association/American Stroke Association Focused Update of the 2013 Guidelines for the Early Management of Patients With Acute Ischemic Stroke Regarding Endovascular Treatment: A Guideline for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association. Stroke, 46(10), 3020-3035.
  3. Adams, H. P., Davis, P. H., Leira, E. C., Chang, K. C., Bendixen, B. H., Clarke, W. R., … & Brott, T. (1999). Baseline NIH Stroke Scale score strongly predicts outcome after stroke: A report of the Trial of Org 10172 in Acute Stroke Treatment (TOAST). Neurology, 53(1), 126-131.
  4. “National Stroke Association”. Disponível em: [stroke.org](https://www.stroke.org). Acesso em outubro de 2023.

Essas escalas são fundamentais para um diagnóstico rápido e tratamento eficaz de AVC, diferenciando gravidades e tipos, facilitando decisões terapêuticas precoces, o que é crucial para melhores prognósticos e redução de complicações.

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